Fomos a Peniche a convite da minha mãe (Pedro), e fizemos questão de não só visitar as praias (até porque não é possível não o fazer), como também visitar a sua fortaleza, tão brilhantemente erguida, quanto triste é a sua história. Por ali foram presos inúmeros presos políticos e é essencialmente a história que hoje conta através de um museu, ainda que esteja longe de se caracterizar somente por isso. Há muito para vos contar hoje.
Peniche é uma terra marcada pelas rendas arraiolos, pela praia e por uma imponente fortaleza com uma vista estrondosa para o mar. Este é também o local que conta a história de 2495 presos políticos que aqui estiveram presos por opressão política. Alguns anos depois do 25 de Abril de 1974, fez-se questão de tornar este local num sítio emblemático que mostra os erros do passado, para que não sejam repercutidos no futuro. Foi isso mesmo que sentimos. Mesmo com a maravilhosa paisagem envolvente, mesmo com as modelos gaivotas, que não param de aparecer e pousar para a fotografia, sente-se o silêncio, a nostalgia, a revolta de um povo, já que a prisão continua caracterizada, por forma de ensinamento do que por lá se passou.
O que outrora foi uma prisão, hoje em dia recebe visitantes portugueses e estrangeiros para conhecer a história destas paredes, escritas e pintadas em cada pedaço de chão e parede desta fortaleza. Fomos fazer esta visita com a minha família (Pedro) avó e o meu irmão. Podemos então referir que o passeio foi visto por diferentes pessoas, com divergentes personalidades, e com várias idades, mas todos sentimos o mesmo: É um passeio carregado de história. Carregado, pesado, cheio de história passada, que não queremos de forma nenhuma que seja actual. Por isso mesmo, achamos que é um passeio essencial para se fazer, para que tomemos contacto com o que se passou no nosso país há não muito tempo atrás.
Peniche é uma terra cheia de história, mas arriscamos dizer que este é o local mais marcante. Foi aqui que foram presos 2495 pessoas, ainda podendo haver muitos nomes que não são conhecidos. Existe então um museu em sua homenagem, que conta parte da história da terra. Logo à entrada do museu podemos ler os nomes de quem por lá esteve. Entre os nomes, o talvez mais conhecido: Álvaro Cunhal.
Começamos na pré-história, com artefactos descobertos da época, passando para a história piscatória remetente aos barcos, aos utensílios usados na actividade, e terminando numa pequena amostra que pretende fazer-nos imaginar como seria ser penitenciário nesta prisão. De entre tudo o que poderíamos mostrar, decidimos trazer-vos para estas fotografias o que mais gostámos e achámos interessante, para não estragar o efeito surpresa do que por lá podem encontrar. Achámos graça a este frasco de sardinhas, pescadas a 28 de Abril de 1910. É impressionante... e talvez um pouco nojento. Um pouco... Muito! Outra parte da amostragem que achámos muito interessante foi o capacete e fato que estamos habituados a ver somente em desenhos animados, talvez. Provavelmente, não sabem, tal como nós não sabíamos, que a costa de Peniche foi palco de muitos naufrágios. Assim, a colecção arqueológica subaquática é composta por materiais resultantes de naufrágios e achados isolados recolhidos na costa de Peniche e no Mar das Berlengas. Estes são locais tradutores de um longo historial de navegações. Achámos um facto muito engraçado.
Depois da parte dos objectos achados e da parte de história mais antiga, mais direccionada à actividade piscatória, chegamos então ao cume, onde encontramos uma amostra do que seriam aquelas prisões. É aqui que as frias paredes brancas, com aberturas fechadas com grades, tornam esta linda paisagem num local frio, nostálgico e pesado pela cruel história que esconde. É aqui que paramos e pensamos que parece que a crueldade por escolhas políticas, e não só, a opressão em geral, ocorreu há muitos, muitos anos atrás. Só que não! Foi já ali ao lado na cronologia histórica. E se é engraçado pensar nos reis, rainhas, nobre e na plebe, quando visitamos um palácio, por ser algo longínquo na história, assusta-nos a proximidade que temos desta realidade.
Aqui contam-se os factos do quotidiano aqui vivido. Na década de 60, os presos passavam cerca de 20h por dia fechados nas suas celas individuais e só se juntavam no refeitório (onde eram proibidos de comunicar); no recreio (1,5h por dia); na sala de convívio (em dois períodos diários de 1h e 1,5h). Essas ordens seriam dadas por apitos agudíssimos.
Mas não se limitam a contar os factos. Mostram-nos artigos que os presos elaboravam e frases dos que por lá passaram, tais como esta: «A imaginação de muitos amigos criou coisas maravilhosas. Em Peniche fiz em fio de pesca, cintos para segurar as calças, sacos também em fios de pesca, cestos de vime com flores em miolo de pão». Também os mais básicos utensílios têm descrições que nos ajudam a perceber o que por lá se passou. Pensem neste facto: o balde compunha o espaço da cela e servia para que o preso pudesse efectuar as suas necessidades fisiológicas, mesmo existindo uma retrete no piso. Esta servia somente para o preso efectuar os despejos...
Nestas paredes respeitam-se as pessoas que por cá passaram. Não são meramente 2495 presos, são nomes e alguns têm rosto marcados nas paredes. Têm as suas frases. Tornam-nos próximos do que por lá se viveu. Faz-nos querer lutar para que não volte a acontecer! Aqui, sente-se a febre e força de um povo!! E sente-se isso ao saber que os "métodos de investigação" usados pela PIDE eram exercidos através do espancamento, pela tortura do sono, pela incomunicabilidade, com o intuito de quebrar, humilhar, vencer. Sente-se isso ao saber que mesmo passando por tudo isto, um povo unido venceu! Se venceu na altura, é agora capaz de tudo. Só têm que ser um povo consciente e informado, para que tal não volte a acontecer. Todos unidos venceremos sempre!
Em suma, este é um local que não podem deixar de visitar. Com uma paisagem muito bonita sobre Peniche e sobre o mar. Com a história de um país. Uma história contada pela primeira pessoa, em vídeos de relatos, em frases proferidas por quem viveu a crueldade. Sim, porque aqui não se conta só a história de Peniche, mas a história de Portugal.
Quem é que já visitou esta fortaleza?
Que locais nos recomendam visitar a seguir?
Que lugar magnífico! Gostei das fotos! :D
ResponderEliminaramarcadamarta.blogspot.pt
Tens que visitar. Faz parte da história do nosso país! :)
EliminarBem já passei algumas vezes por essa fortaleza e nunca a visitei, nem imaginava o quanta história tinha por dentro! =)
ResponderEliminarMRS. MARGOT
Também nos lembrávamos desta fortaleza, mas nunca lá tínhamos entrado. Foi uma boa descoberta! Valeu mesmo a pena. Recomendamos que visites! :)
EliminarSó fui aí uma vez e tenho tão boas recordações :) Este post ajudou-me a revivê-las , obrigada :p
ResponderEliminarGirls Just Wanna Have... | YOUTUBE | FACEBOOK | INSTAGRAM
Bonitas imagens. Um local giro para visitar!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Deve ser realmente impressionante!
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